quarta-feira, 18 de março de 2009

"O LUTADOR" (The wrestler), de Darren Aronofsky (EUA, 2008)




Darren Aronofsky, transforma a despretensão em sua maior pretensão. Recurso, este, que privilegiando seu astro em reconstrução, Mickey Rouarke, acaba por homenagear o cinema de autor, onde a forma de se contar a história diz mais que a história em si.
A história clichê de redenção de um astro decadente sai, para dar lugar a própria redenção do diretor e seu ator. Temos como resultado uma verdadeira obra de arte, onde a realização são maiores que seus realizadores. Onde o ser humano prevalece.
As escolhas do diretor deixam claro o quanto a prioridade era a intimidade com o ator, deixando-o livre para ser aquilo que precisa ser. Ao não lutar com seu ator, deixa-o livre para lutar. Sua câmeras parecem “perseguir” Mickey Roarke e seu Randy “The RAM”. O início do filme com seus cartazes, e áudios que relembram as glórias de um passado não tão distante, são interrompidas para que nos situemos no presente. Vemos Randy, sentado, cabisbaixo, logo após mais uma luta. Em seguida temos um plano sequencia, no qual já fica claro que o personagem é tudo, ele quem direciona nosso olhar, mas não para o que vê, e sim sobre si mesmo. O personagem é o objeto da cena, ele que preenche o quadro do início ao fim.

Grande parte da mídia impressa e até mesmo dos sites especializados em cinema supervalorizaram as coincidências entre personagem e ator. Como se fosse um renascimento de ambos, uma tentativa de darem a “volta por cima”, como se Rouarke tivesse abandonado a carreira de ator e tentasse voltar a ativa. Assim como Roarke nunca deixou de fazer filmes, mesmo enquanto arriscava-se como lutador de boxe profissional, o filme trata mais sobre os nocautes que a vida nos dá, do que aqueles que se experimenta em um ringue, seja ele de boxe ou luta livre.
Fosse apenas esse fato, ainda teríamos muitos argumentos para valorizar as coincidências entre as biografias do Mickey Roarke personagem e ator . Porém, o fato é que tanto o filme quanto a carreira do ator não contam uma história de redenção a medida em que refletem o quanto a vida que levamos é fruto de nossas escolhas, e o quanto podemos escolher entre fazer aquilo que faz sentido para nós num determinado instante, ou nos render àquilo que a sociedade espera que façamos e sejamos, mesmo que para isso soframos a dor do arrependimento.
Assim como Roarke, escolheu abdicar dos papéis de galã em Hollywood na passagem dos anos 80/90, para lutar boxe profissional, Randy também escolheu continuar lutando, mesmo após a passagem implacável do tempo. Um tempo que deixa muitas marcas, tão profundas que nem mesmo as incontáveis cicatrizes que Randy mostra em seu corpo, conseguem representar.

Assim como a maioria das pessoas que fazem escolhas, Randy possui muitos arrependimentos ao chegar ao 50 anos. Ninguém é considerado “looser” por ter sido um pai ausente ou marido irresponsável. São falhas consideradas humanas. Porém, diferentemente de uma maioria considerada "bem sucedida" pela mídia e/ou sociedade, que possue a desculpa ideal para a negligência que praticam, Randy é respeitado e rodeado de amigos no mundo em que vive. Respeito e carinho que recebe por ser aquilo que é, não por aquilo q tem. O "ser" substituindo o "ter", coisa rara em tempos onde o consumo da imagem deixa marcas na pele (Tanto Randy quanto a dançarina Cassidy, exibem e maculam seus corpos como mercadoria de consumo)

No mundo que construiu para si, onde quer que vá é recebido por amigos, e recebe destes um carinho tão sincero quanto o que um bom pai poderia vir a receber de seu filho. Pois o filme trata justamente disso, dessa busca do carinho perdido. O carinho da filha que abandonou e da esposa que nunca teve.
O que precisa ficar claro é que as tentativas de reconciliar com sua filha já adolescente e a entrega em um relacionamento pouco usual com uma dançarina-stripper, são frutos daquilo que deixara para trás, em troca do que construiu em sua carreira. Nada distante do empresário que após anos se dedicando à profissão, após uma crise de estresse se dá conta de que o dinheiro não é tudo e passa a olhar o mundo com outros olhos. A diferença é que Randy não conquistou dinheiro através de sua profissão, pelo contrário, trabalha e freqüenta academias durante a semana para poder lutar nos finais de semana. Nosso lutador conquistou muito mais que dinheiro, conquistou o carinho de amigos verdadeiros e principalmente fãs. Não é por menos a comparação de nosso astro com Jesus Cristo, Randy também se sacrifica em troca de nossa sobrevivência. A diferença é que Jesus não pediu nada em troca, nosso lutador pede apenas carinho.

A luta com Aiatolá nem foi idéia sua, mas o fez acreditar que algo a mais ainda poderia ser realizado, um possível retorno ao topo. Mas Randy acaba desistindo da luta, apenas aceita lutar novamente quando se vê sem identidade no mundo real, Mr. Razinsky, pai e amante já não fazem mais sentido, sucumbiram para que Randy THE RAM prevalecesse.
Cassidy, a dançarina e mãe quarentona que almeja criar seu filho na Flórida e que recusa a se apaixonar por Randy, também nega seu nome da vida real. Sendo conhecida nas ruas como Pam, Cassidy também corrige funcionário do clube de dança quando este se refere a ela no momento em que decide seguir nosso lutador em sua luta final, já que nesse momento, deixa de ser a dançarina e assume seu nome "verdadeiro", o nome das ruas, o da mãe que está apaixonada e que pretende mudar os rumos de sua vida.

Temos muitas cenas memoráveis, como aquela em que Randy, após o ataque do coração convence sua filha a sair com ele, e a chama para ir no "lugar preferido deles". Randy tenta resgatar os bons momentos que permanecem intocados em sua memória. Temos então, pai e filha, juntos em lugares bem amplos como o cais do porto, com direito a horizontes sem fim, pedidos de perdão e uma última dança. São cenas em locais enormes, com muito espaço a ser preenchido, galpões empoeirados e vazios sendo revisitados, como o coração de sua filha, e seu própio coração literalmente partido pelo tempo. Tentam preencher o que o tempo tratou de deteriorar. Para depois perceber que sua carne, já velha, não é o que possui de pior...infelizmente há certas coisas que o tempo não muda e nosso herói insiste em dar motivos para a culpa que sente.

No auge da narrativa temos Randy trabalhando horas extras como atendente da sessão de frios do supermercado do qual é funcionário, quando explode de raiva ao ser reconhecido por um cliente que afirma "reconhecê-lo de algum lugar, só que mais velho". Randy se cansa de ser um mero produto consumido pelo tempo, e após provocar profundo corte em seu dedo na máquina de cortar, sai pelos corredores sujando a cara de sangue e derrubando as prateleiras dos produtos a serem consumidos pelos clientes, estes, os mesmos que o consumiram quando jovens nos anos 80. Agora, já velho, descobre que as crianças não querem mais saber de nintendo...como ele mesmo diz em um dos diálogo memoráveis: "os anos 80 eram demais, aí veio o Kurt Cobain e estragou tudo".

Em sua luta final, que poderia se transformar num clichê de redenção e triunfo do herói, se transforma num épico às avessas. Vemos nosso lutador se esvair em sangue quase sem forças, e numa sequência rápida de quadros que se ospõem em sua magnitude, presenciamos o último salto de THE RAM, o salto para imortalidade do quadro, que mesmo sendo literalmente "rasgado" pelo personagem, se eterniza na escuridão da sala de cinema, momentos antes de ouvirmos Bruce Sprinsgteen dar início a belíssima música tema.

5 comentários:

Adriano Vilas Bôas disse...

Post de Marina Reis:

"Drugue, tantas concordâncias e discordâncias, apesar de não ter visto o filme, mas digo pela base filosófica que você dá aos seus textos. Eu sou pagã e não sabia que Jesus não pediu nada. Achava que ele tinha pedido uma pancada de coisa, tipo "Ama ao teu próximo como a ti mesmo" só pra comecar. Mas fiquei curiosa mesmo foi quanto ao fato de ninguém ser considerado "looser" por falhas consideradas
humanas, achava que as coisas mais humanas eram exatamente as que fazem a pessoa se sentir mais "looser" - uma nocão muito americanizada, aliás, apropriada para discussão. Vamos ao ringue?
Bjos e desculpe a falta de cedilha."

Raissa Deeas. disse...

acredita que eu ainda nao assisti esse filme? assisti milk e chorei horrores, eh demais!
respondendo mil anos depois:

estilo patrician. san pessoas fisicamente: altas, loiras, cabelos lisos, olhos claros, geralmente vem de familias muito ricas, rica de geracoes, entende?
aristocratas, bem educadas, familia nobre... eh dificil explicar em portugues.

preppy girl: meninas de NYC, que vem de familia ricas de Upper East Side, Manhattan, que estudam em escolas particulares que se usa uniforme, e elas tem um estilo bem unico ao se vestir, no qual preferem usar muitas coisas vintage, geralmente sao bem mgras e fingem que nao ligam pra estilo mas na verdade ligam demais... mas ultimamente se vc se vestir como uma vc eh considerada... sem considerar seu lado economico.

west coast, bitch: eu esqueci de colocar a virgula... west coast eh literalmente california e mais precisamente LA... west coast bitch sao as meninas daui, que so querem saber de fama e afins...

upper east side, eh a pare nobre de manhattan, ode todo mundo que tem grana mora... apartamentos caros demais e todas essas coisas...

Iolanda disse...

por que parou, parou por que??

Cris disse...

É bom ter um advogado do diabo na história: apesar emoção até às lágrimas derramadas diante da filha, o sacana estraga tudo, ao trocar a provável reconciliação, por uma sessão de drogas, sexo e rock anti-nirvana...
Hipocrisia zero, é drama + é bacana!

renato disse...

é.... pq parou? parou pq?