sábado, 15 de agosto de 2009

PROIBIDO PROIBIR, Jorge Duran (Brasil, 2007), por Renato Couto

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Um retorno triunfal, através das mãos de um velho amigo (amigo velho, também, ás vezes), apresento uma reflexão sobre a juventude que parece crítica de cinema, ou será toda crítica um exercício de reflexão sobre a vida?
Renato Couto não dá as respostas, mas nos instiga a pensar: Quem somos estes que chamam Juventude?


Uma fase glamorosa, a juventude é o momento em que são decididos muitos dos caminhos que serão trilhados ao longo da vida. Talvez, por isso seja para muitos que vivem essa fase, um momento de angústias e de questionamentos na preocupação em se construir uma pessoa que se quer ser partilhada de uma aspiração por uma sociedade melhor.

Proibido Proibir (2007) foi também o lema adotado pelos estudantes em Maio de 68, quando jovens encontraram-se na formação da contra-cultura. Sendo assim, existe uma conexão entre aquela época e a que se passa no filme, porém de uma forma que expressa a alma jovem, incipiente na sua capacidade de mudar o mundo. No entanto, Proibido Proibir não se passa no mesmo ambiente de Os Sonhadores; o pais e o tempo são outros, e sendo assim, diferentes são os problemas que emergem dessa sociedade. O filme co-escrito e dirigido por Jorge Durán, chileno radicado no Brasil desde 1973, retrata o Rio de Janeiro do começo do século XXI, quando estudantes universitários de classe média vivem os conflitos para se firmar como indivíduos. Para essa classe privilegiada, é a oportunidade de viver a universidade, locus de conhecimento, porém numa relação de pertencimento que mantém o jovem afastado da realidade, fazendo-o habitar uma espécie de bolha.

Paulo (Caio Blat), estudante de medicina, representa um jovem não politizado, cético, que desdenha de movimentos estudantis e pensa que todo o governo tem o mesmo projeto de ˜foda-se”para o povo. Para viver, resguarda-se nas drogas e nas garotas e nessas plataformas estaria arquitetado seu plano de governo. León (Alexandre Rodrigues), um negro estudante de sociologia, apontado como o melhor da turma, que acredita na construção de projetos sociais como meio de reduzir as mazelas a que são expostas as classes pobres. São definidos um pelo outro como alienado e idealista respectivamente, moram juntos “num lugar quente, longe do mar, mas perto da faculdade e onde aluguel é barato”. Apesar dos times de futebol diferentes e outras desavenças, um considera o outro seu irmão do peito e gastam suas mesadas em livros e cd´s, perdem a chave de casa e escalam o muro para entrar pelos fundos.

Letícia (Maria Flor) é trazida por León como namorada, porém, no melhor estilo Jules et Jim, logo consolida-se a formação de um triangulo amoroso, quando Paulo demonstra-se também apaixonado pela nova amante do amigo. Letícia é uma estudante de arquitetura e seus passeios pela cidade permitem uma fotografia por lugares não populares do Rio, chamando a atenção para uma beleza envelhecida e mal preservada. As tardes, recheadas de discussões sobre política, sobre o amor e sobre a arte, são passadas juntas pelos três. As constantes mudanças de planos, como entre morar juntos ou realizar uma viagem para o exterior, mostra um futuro não definido e que permeia a mente do jovem frente as inúmeras possibilidades.

Quando Paulo aproxima-se de Rosalina, uma paciente com leucemia do hospital-escola onde estuda, a vida dos três estudantes mescla-se com a realidade e eles deixam aquela bolha. A partir desse momento, os três jovens descobrem as limitações de suas forças ao perceberem que médicos nem sempre poderão salvar vidas, que, a uma vez famosa beleza da cidade, transformou-se num _mar de favelas” e que uma classe dessa sociedade parece condenada a viver na pobreza e na violência. Diante de uma realidade que nada condiz com seus sonhos e os problemas de suas próprias relações amorosas, a vontade que eles tem é “de largar tudo”, talvez uma vontade de deixar de crescer e voltar a uma época quando estavam protegidos destas situações. Ao se depararem que _tudo está podre e eles que se fingiram de cegos para não ver_ a fuga torna-se inevitável.

Vista de fora e de cima, observada de um mirante, percebem aquela como a cidade que os construiu, e, bem como foram preparados, que agora eles tem como missão a construção dela. Juntos, mostram-se preparados para seguir o futuro como indivíduos, aptos a distinguir o bem do mal. De certa maneira, o mundo está mesmo em suas mãos e a fuga não é solução, já que o que aconteceu não pode e não quer ser esquecido. A esperança e a crença na bondade do homem surgem com a música, unindo-se ao final do filme, e prontas a ecoar no imaginário do espectador.

O Sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente

É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer

2 comentários:

onlinewm disse...

"Para essa classe privilegiada, é a oportunidade de viver a universidade, locus de conhecimento, porém numa relação de pertencimento que mantém o jovem afastado da realidade, fazendo-o habitar uma espécie de bolha."

habitar na bolha é foda ainda mais agora PROIBIDO fumar em lugares fechado

Iolanda disse...

Eu não gostei muito do filme, mas a crítica é boa, uma interpretação clara dos conflitos, principalmente esse trecho que o cara citou. Gostei dessa parte tb:

"Diante de uma realidade que nada condiz com seus sonhos e os problemas de suas próprias relações amorosas, a vontade que eles tem é “de largar tudo”, talvez uma vontade de deixar de crescer e voltar a uma época quando estavam protegidos destas situações."

No início ele expõe a juventude dos personagens, a ilusão do jovem confiante em poder viver o mundo que escolhe viver: o mundo das paixões, das ideologias, do sexo, da arte, da liberdade. Depois o mundo que cada um construiu desmorona frente a realidade, ao perceberem que suas individualidades se diluem no coletivo.

Apesar de todo esse sentido, achei meio fraco, meio deprê, não enxerguei a "mensagem" do filme. Tenho a impressão de que em geral os filmes brasileiros são só retratos. Expõem uma realidade, e só.