terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Observe & Report", Jody Hill (EUA), 2009




Assim como em seu filme de estréia, o independente "Foot fistt ways", de 2007, Jody Hill (diretor e roteirista) explora um universo muito peculiar e contemporâneo, extraindo a comicidade das situações e personagens mais ordinárias.

Se no primeiro filme, tínhamos como pano de fundo a escola de taw ken do suburbana e decadente, em "Observe & report" temos o universo dos shoppings centers e todo seu impulso pelo consumo e ostentação da imagem. A começar pelo protagonista Ronnie, interpretado pelo rei da comédia atual, Seth Rogen. Um segurança de shopping center que adora armas, sofre de transtorno bipolar, possue uma mãe alcoólatra e sonha em se tornar um policial, assim como nos filmes.

Todas essas qualificações poderiam caminhar para um dramalhão cabeça, cheio de lições de moral, ou a mais uma comédia imbecil protagonizada por Rob Shneider, mas Jody Hill trata todos os personagens com tanto respeito, que acaba se revelando sensível aos dramas do norte-americano médio, tão caricaturizado como looser pelo cinema hollywoodiano.

Ronnie é o segurança do shopping que após o "ataque" de um tarado que adora mostrar sua "arma" para as clientes do shopping, vê aí sua chance de ser "alguém", prendendo tal ameaça.
Temos então Ronnie e sua gangue de seguranças (personagens ótimas que enriquecem muito a trama) confrontando a policia de verdade, personificada na pele de Ray Liotta, policial sério e desbocado que não poupará esforços para tirar Ronnie de seu caminho.

Apresenta-se assim, uma verdadeira reinvenção do mito do herói, uma adaptação aos dias atuais daquele que decide enfrentar seu destino e viver sua vida plenamente. Isso tudo com cameras lentas belíssimas e uma trilha sonora impecável, símbolo de uma geração pré-internet, que cresceu nos anos 90.

Através de seu olhar sobre esse universo, Jody Hill nos convida a rir de nós mesmos, para que não nos levemos tão a sério, já que no fim do filme, Ronnie, o herói, resolve enfrentar sua realidade, e encarar de frente seus problemas, temos uma sequência de planos onde o "quase policial" termina um "namoro", se reconcilia com o amigo que o traiu, conhece o verdadeiro amor, atira no peito do tarado (uma das cenas mais chocantes e ousadas dos últimos tempos), que corria nu através da praça de alimentação ao som de "where is my mind", do Pixies, e o entrega aos policias que o rejeitaram, dizendo com o peito estufado: "Eu não preciso de um distintivo para saber quem eu sou".

Ronnie é o porta voz de uma fatia da sociedade que não se prende aos rótulos e fantasias do mundo moderno que legitimam e dizem se voce é bom ou não pelas roupas que voce usa, ou cargo que ocupa. Pelo contrário, Ronnie e sua legião de seguidores brincam com essas fantasias da modernidade que tanto nos distancia de nós mesmos, nos encorajando a sermos aquilo que esquecemos (ou nem sequer sabíamos) que eramos: homens com chapéus engraçados.