segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"NINHO VAZIO", Argentina (2008), Daniel Burman





Tão comum nos prendermos em pensamentos que nos privam do presente. Vivemos dentro de nossas cabeças, projetando um futuro especulado em possíveis escolhas, ao invés de as realizarmos no presente. Ou será no passado nostálgico e idealizado da infância que vivemos a maior parte do tempo?

Deixamos de olhar as estrelas e nos apegamos ao relógio. Trocamos o tempo da natureza pelo tempo do consumo. Vivemos em função de um tempo externo, alheio a nós mesmos, num desrespeito às nossas necessidades essenciais para manutenção da sanidade.

É nesse terreno tortuoso e íngreme que Daniel Burman pinta o cenário onde Leonardo (Oscar Martinez) caminha. Assim como Antoine Doinel era para Truffaut, Leonardo aparenta ser para o diretor argentino Daniel Burman. Leonardo também é escritor, porém de peças. Renomado dramaturgo que ao se deparar com as incertezas de suas escolhas, em decorrência das inúmeras alternativas que a vida e as circunstancias proporcionam, acaba por criar realidades paralelas à existência dos demais, mesmo que muitos participem desse "seu mundo", sem ao menos saberem.

Leonardo é casado com Martha (Cecilia Roth) com quem tem 3 filhos. Quando os 3 crescem e partem para estudar longe, surge a necessidade ver o relacionamento de outra perspectiva. Seria tal necessidade fruto da sociedade na qual vivemos, tendo esta, papel determinante em nossas escolhas, mesmo aquelas em que acreditamos exercitar o tão falado livre-arbítrio?

Quando Leonardo e Martha se encontram nas circunstâncias onde a praxe é a redescoberta dos dons reprimidos em função da família e do matrimônio, o casal hesita em aceitar o que a sociedade espera deles. Ao mesmo tempo que se inclinam a tomar atitudes que legitimem os livros de auto-ajuda, se esforçam em certificar se estão agindo de acordo consigo mesmos.
Os desejos reprimidos ao longo do casamento se afloram, como se a inevitável independência dos filhos (e consequente abandono do ninho) servisse de pretexto ou catalisador de atitudes adiadas durante tanto tempo.

A medida em que transferem o foco de atenção dos filhos, se deparam com aquilo que se tornaram. Ela quer terminar a faculdade, cuja qual trancou a matrícula para cuidar da casa e dos filhos. Ele quer apenas ficar tranquilo, não sem antes realizar fantasias esquecidas, ou seria fantasiar realidades? Já que os encontros "casuais" de Leonardo com uma mulher de misteriosa beleza, se dão através de elipses que mais confundem os sentimentos do espectador como protagonista nesse grande jogo que é a vida através do cinema.

Em certos momentos Leonardo afirma não ter nada contra os atores cantarem nos grandes musicais, já que o que sempre o incomodou era o fato de dançarem. Contrariando seu protagonista, Daniel Burman se vale de precisos movimentos de câmera para registrar a dança entre transeuntes que se deslocam num caos ordenado, sempre através de enquadramentos inusitados, e composições que privilegiam o primeiro plano.

Assim, entre verdadeiros encontros com o outro, e principalmente consigo mesmo, Daniel Burman, parece nos querer dizer através do filme, e mais especificamente de uma cena, que para vivermos o tempo do hoje, o tempo presente, da natureza, basta nos levantarmos da poltrona logo após o término da sessão, dirigirmos em direção à saída para as ruas, e escolhermos o caminho de volta para casa, ou assim como Leonardo, que também levantou-se de sua poltrona, caminhar em direção ao nosso quarto e contarmos algo para nossa esposa.
O certo é que em ambos os casos, tanto o caminho de volta quanto o que será dito a esposa, pouco importam.
A ação precede a intenção.
Pensar não é preciso, agir é preciso.
Agir é o que importa...
"AÇÃO!"

4 comentários:

Raissa Deeas. disse...

gente, que confuso, mas parece ser um filme bem bacana.
agora vem cá, me diz, porque você fez direito?

Cris disse...

A-do-rei suas sinopses!!!
quero ver ainda "ninho vazio",
instigou-me, porque quem deixou vazio o ninho fui eu...

Iolanda disse...

Belo texto! Cara, tem muito a ver com o conflito dos meus pais... alguns receios que minha mãe me confessa de vez em quando, como meu pai querer ser por aí com uma moto e pegar secretarias novinhas do trabalho, ao passo que ela quer ficar tranquila cuidando da empresa dela e das plantinhas. Nossa... fiquei com muita vontade de ver... nós 5, acho que seria bom. Adorei, amor, bjs!

Bote Cultural disse...

Doutor Vilas Boas

Aqui vais meus cumprimentos pelos dois textos..JA VI QUE PRECISO ASSISTIR URGENTE.

Eu sei porque ele fez direito...rssss

GAM

Cruz