Todos já devem estar cansados da comparação com "Cidade de Deus", mas é inevitável. Danny Boyle fez sim, o seu "Cidade de Deus" indiano. E não me refiro apenas a cena inicial que chega a se confundir com a cena da galinha de Fernando Meirelles.
A edição clipada está ali, assim como no brazuca, para criar uma Índia onde o "slumdog" (favelado, do título original) seja agradável de se ver como nos morros cariocas retratado por Meirelles.
Poderia fazer a relação entre os personagens Jamal X Salim com Bené X Zé pequeno, traçar paralelos entre as duplas através do amor X ódio, e temperamentos opostos dos amigos que possuem destinos entrelaçados. Porém, Boyle não assinou o roteiro.
Sendo assim me limito às opções da direção, onde por mais que Boyle se esforce para apresentar um olhar original através de enquadramentos milimetricamente fora do eixo, alternâncias de texturas que remetem ao realismo documental quando granuladas (o que gerou algumas cenas desncessárias como a do policial que olhando para a camera pede para pararem de filmar, como se tudo aquilo fosse real), câmeras lentas que interrompem cenas de forte ação dramática, não apresenta nada de novo, nada que Tony Scott não tenha esgotado com seus filmes de ação: "Dejá vu", 2006, "Domino", 2005 e "man on fire", 2004.
Assim como os elencados, o filme abusa de flashbacks, só que diferentemente de Tony Scott, Boyle não os utiliza para cumprir o que propõe, subestimando o espectador mais atento, revelando ainda mais o quanto hesitou em fazer escolhas. Ao não optar entre o realismo e o fantástico, terminou por criar circunstâncias onde o espectador não sabe se acredita na Índia "realista" que é apresentada, com seus abismos sociais e impunidade indiscriminada ou se deve acreditar que Jamal e Salim são realmente Athos e Porthos, personagens da história dos 3 mosqueteiros e a vida miserável que levam são mascaradas pelas aventuras que desfrutam.
A impressão de que o filme foi superestimado fica latente quando analisamos o que é proposto, já que este se adequa ao entretenimento. Isso não seria nada demais, não fosse a constatação de que ele está sendo considerado maior do que isso, maior do que o diretor de Top Gun (Tony Scott), como se dissesse mais do que realmente diz, e pior, como se a intenção tivesse realmente sido esta. O filme não tem consciência de sua superficialidade, forja um aprofundamento vazio e sem sentido.
Voltando a comparação, assim como Meirelles, Boyle realizou seleções e oficinas com não atores, moradores do cenário a ser retratado. Índia, Mumbai e sua maior favela. A principal diferença reside no fato de que o ingles seja um dos idiomas oficiais da India, permitindo que a maior parte do filme tenha sido falado em inglês credenciando-o a concorrer (e ganhar) as principais estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme e direção.
Até mesmo eu desconfiaria de estar sendo muito cruel com o filme, não fosse a trama central e seu previsível desfecho, onde o destino comprova que o amor está acima de tudo, ou quase tudo, já que aqui ele só se concretiza quando a pergunta que dá título ao filme é respondida!! Ou melhor, quando descobrimos aquele que MERECE ser milionário. O ÚNICO indiano merecedor de respeito. Aquele que compensa todos os males dos 1,3 bilhão restantes.
Único, porém o bastante para Hollywood se esforçar em agradar o mercado consumidor de um país em expansão econômica e ávido por reconhecimento do ocidente.
A edição clipada está ali, assim como no brazuca, para criar uma Índia onde o "slumdog" (favelado, do título original) seja agradável de se ver como nos morros cariocas retratado por Meirelles.
Poderia fazer a relação entre os personagens Jamal X Salim com Bené X Zé pequeno, traçar paralelos entre as duplas através do amor X ódio, e temperamentos opostos dos amigos que possuem destinos entrelaçados. Porém, Boyle não assinou o roteiro.
Sendo assim me limito às opções da direção, onde por mais que Boyle se esforce para apresentar um olhar original através de enquadramentos milimetricamente fora do eixo, alternâncias de texturas que remetem ao realismo documental quando granuladas (o que gerou algumas cenas desncessárias como a do policial que olhando para a camera pede para pararem de filmar, como se tudo aquilo fosse real), câmeras lentas que interrompem cenas de forte ação dramática, não apresenta nada de novo, nada que Tony Scott não tenha esgotado com seus filmes de ação: "Dejá vu", 2006, "Domino", 2005 e "man on fire", 2004.
Assim como os elencados, o filme abusa de flashbacks, só que diferentemente de Tony Scott, Boyle não os utiliza para cumprir o que propõe, subestimando o espectador mais atento, revelando ainda mais o quanto hesitou em fazer escolhas. Ao não optar entre o realismo e o fantástico, terminou por criar circunstâncias onde o espectador não sabe se acredita na Índia "realista" que é apresentada, com seus abismos sociais e impunidade indiscriminada ou se deve acreditar que Jamal e Salim são realmente Athos e Porthos, personagens da história dos 3 mosqueteiros e a vida miserável que levam são mascaradas pelas aventuras que desfrutam.
A impressão de que o filme foi superestimado fica latente quando analisamos o que é proposto, já que este se adequa ao entretenimento. Isso não seria nada demais, não fosse a constatação de que ele está sendo considerado maior do que isso, maior do que o diretor de Top Gun (Tony Scott), como se dissesse mais do que realmente diz, e pior, como se a intenção tivesse realmente sido esta. O filme não tem consciência de sua superficialidade, forja um aprofundamento vazio e sem sentido.
Voltando a comparação, assim como Meirelles, Boyle realizou seleções e oficinas com não atores, moradores do cenário a ser retratado. Índia, Mumbai e sua maior favela. A principal diferença reside no fato de que o ingles seja um dos idiomas oficiais da India, permitindo que a maior parte do filme tenha sido falado em inglês credenciando-o a concorrer (e ganhar) as principais estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme e direção.
Até mesmo eu desconfiaria de estar sendo muito cruel com o filme, não fosse a trama central e seu previsível desfecho, onde o destino comprova que o amor está acima de tudo, ou quase tudo, já que aqui ele só se concretiza quando a pergunta que dá título ao filme é respondida!! Ou melhor, quando descobrimos aquele que MERECE ser milionário. O ÚNICO indiano merecedor de respeito. Aquele que compensa todos os males dos 1,3 bilhão restantes.
Único, porém o bastante para Hollywood se esforçar em agradar o mercado consumidor de um país em expansão econômica e ávido por reconhecimento do ocidente.