Brad Pitt com a cara amassada
Com “Queime depois de ler”(Burn after reading, 2008), os irmãos Coen voltam em grande estilo numa sátira ácida da sociedade de consumo como um todo, em especial a norte-americana, berço da hollywood que eles tanto desprezam.
Desde o cartaz o filme já intriga, “um filme dos irmãos Coen com Brad Pitt e George Clooney? Sobre espionagem?”. Mas como torcer o nariz para um filme dos irmãos Coen, uma das últimas ilhas de criação independente dentro de hollywood, num horizonte recheado de refilmagens de filmes de terror japonês e infantis com Brendan Fraser.
Não, mesmo após a consagração no último Oscar, os diretores não se renderam aos produtores inescrupulosos, pelo contrário, fica claro que estes é que se renderam a eles.
Não se trata de um filme na linha de “onze homens e um segredo” ou suas continuações igualmente mirabolantes e sem sentido. Aqui, o elenco de estrelas faz sentido.
Primeiro que em “Queime depois de ler”, a falta de sentido se transforma em crítica, e não ao filme que além dos galãs já citados, conta com Julia Roberts no elenco, e sim à sociedade como um todo, em plena crise(e não me refiro à econômica), tentando se agarrar a algo que faça sentido, seja numa reinvenção de si mesmo através de cirurgias plásticas, num relacionamento extraconjugal, num trabalho onde o produto se distancia cada vez mais do indivíduo como ser pensante, ou, resumindo, na busca incessante de prazer através da fuga daquilo que o homem moderno simultaneamente mais teme e necessita para entender a si mesmo, a solidão.
Para isso, os personagens de “Queime depois deler” não medem esforços, desde buscas do "par ideal" em sites de relacionamentos da internet, até a construção de verdadeiras máquinas do sexo.
Os irmãos Coen conseguiram a proeza de realizar um filme que atinge diversos nichos de espectadores, sendo capaz de satisfazer a todos plenamente. Quem queria rir, sem dúvida riu, quem queria algo extremamente irônico riu também, quem esperava suspense riu ainda mais. Mas ninguém riu mais do que quem esperava ver George Clooney e Brad Pitt como salvadores do planeta. Os dois atores em especial, parecem se deliciar com o fato de estarem brincando com a imagem que construíram de si mesmos (ou construíram para eles?). Francês McDormand está impagável como a mulher obcecada por cirurgias plásticas, que faz de tudo para conseguir o dinheiro que, segundo afirma, será capaz de dar início a sua própria reinvenção. Em determinado momento, a personagem interpretada pela esposa de Joel Coen afirma que "seria expulsa de hollywood" e por isso quer a reinvenção que os livros de auto-auda tanto prometem.
Através de Tilda Swinton e John Malcovitch, os Coen parecem extravasar toda repulsa ao estilo de vida que Hollywood vende e ostenta, expõem toda a indiferença que estava contida em seus olhares quando receberam os prêmios das principais categorias do Oscar desse ano, por “Onde os fracos não tem vez”(No country for oldman, 2007). John Malcovitch faz um agente da CIA, que logo no início do filme é afastado de seu cargo por “problemas com álcool”(o que rende uma das melhores piadas do cinema em 2008), seu afastamento gera todo o conflito com o qual nos deparamos e tentamos entender sem êxito algum. Tilda Swinton é a esposa “fria e egocêntrica”, muito bem sucedida profi$$ionalmente (ela é pediatra??), que não mede esforços para manter sob seu controle, tanto o marido quanto o amante.
Através do casal, revela-se o verdadeiro jogo de espionagem que paira sobre a sociedade americana atual. Com o fim da guerra fria, a espionagem que resta é a praticada entre cônjuges, para obtenção de provas de infidelidade visando garantir a "segurança" do patrimônio construído em conjunto.
A trama sem pé nem cabeça revela apenas a superfície de uma ferida mal escondida, que após alguma "reflexão-espremida" termina por revelar seu pus fétido e incontido.
A direção meticulosa faz do espectador refém de seus prórpios sentidos, o roteiro extremamente bem construído nos leva a um final onde nada se passa, nada nos é revelado através da imagem, e sim através de uma simples e informal conversa entre chefe e subordinado. Através da conversa de ambos, ou seja, por meio da palavra, temos um esforço para que o filme seja concluído-entendido, os personagens, assim como nós, querem entender o filme do qual fazem parte, também querem entender suas funções num mundo cada vez mais caótico.
Com “Queime depois de ler”(Burn after reading, 2008), os irmãos Coen voltam em grande estilo numa sátira ácida da sociedade de consumo como um todo, em especial a norte-americana, berço da hollywood que eles tanto desprezam.
Desde o cartaz o filme já intriga, “um filme dos irmãos Coen com Brad Pitt e George Clooney? Sobre espionagem?”. Mas como torcer o nariz para um filme dos irmãos Coen, uma das últimas ilhas de criação independente dentro de hollywood, num horizonte recheado de refilmagens de filmes de terror japonês e infantis com Brendan Fraser.
Não, mesmo após a consagração no último Oscar, os diretores não se renderam aos produtores inescrupulosos, pelo contrário, fica claro que estes é que se renderam a eles.
Não se trata de um filme na linha de “onze homens e um segredo” ou suas continuações igualmente mirabolantes e sem sentido. Aqui, o elenco de estrelas faz sentido.
Primeiro que em “Queime depois de ler”, a falta de sentido se transforma em crítica, e não ao filme que além dos galãs já citados, conta com Julia Roberts no elenco, e sim à sociedade como um todo, em plena crise(e não me refiro à econômica), tentando se agarrar a algo que faça sentido, seja numa reinvenção de si mesmo através de cirurgias plásticas, num relacionamento extraconjugal, num trabalho onde o produto se distancia cada vez mais do indivíduo como ser pensante, ou, resumindo, na busca incessante de prazer através da fuga daquilo que o homem moderno simultaneamente mais teme e necessita para entender a si mesmo, a solidão.
Para isso, os personagens de “Queime depois deler” não medem esforços, desde buscas do "par ideal" em sites de relacionamentos da internet, até a construção de verdadeiras máquinas do sexo.
Os irmãos Coen conseguiram a proeza de realizar um filme que atinge diversos nichos de espectadores, sendo capaz de satisfazer a todos plenamente. Quem queria rir, sem dúvida riu, quem queria algo extremamente irônico riu também, quem esperava suspense riu ainda mais. Mas ninguém riu mais do que quem esperava ver George Clooney e Brad Pitt como salvadores do planeta. Os dois atores em especial, parecem se deliciar com o fato de estarem brincando com a imagem que construíram de si mesmos (ou construíram para eles?). Francês McDormand está impagável como a mulher obcecada por cirurgias plásticas, que faz de tudo para conseguir o dinheiro que, segundo afirma, será capaz de dar início a sua própria reinvenção. Em determinado momento, a personagem interpretada pela esposa de Joel Coen afirma que "seria expulsa de hollywood" e por isso quer a reinvenção que os livros de auto-auda tanto prometem.
Através de Tilda Swinton e John Malcovitch, os Coen parecem extravasar toda repulsa ao estilo de vida que Hollywood vende e ostenta, expõem toda a indiferença que estava contida em seus olhares quando receberam os prêmios das principais categorias do Oscar desse ano, por “Onde os fracos não tem vez”(No country for oldman, 2007). John Malcovitch faz um agente da CIA, que logo no início do filme é afastado de seu cargo por “problemas com álcool”(o que rende uma das melhores piadas do cinema em 2008), seu afastamento gera todo o conflito com o qual nos deparamos e tentamos entender sem êxito algum. Tilda Swinton é a esposa “fria e egocêntrica”, muito bem sucedida profi$$ionalmente (ela é pediatra??), que não mede esforços para manter sob seu controle, tanto o marido quanto o amante.
Através do casal, revela-se o verdadeiro jogo de espionagem que paira sobre a sociedade americana atual. Com o fim da guerra fria, a espionagem que resta é a praticada entre cônjuges, para obtenção de provas de infidelidade visando garantir a "segurança" do patrimônio construído em conjunto.
A trama sem pé nem cabeça revela apenas a superfície de uma ferida mal escondida, que após alguma "reflexão-espremida" termina por revelar seu pus fétido e incontido.
A direção meticulosa faz do espectador refém de seus prórpios sentidos, o roteiro extremamente bem construído nos leva a um final onde nada se passa, nada nos é revelado através da imagem, e sim através de uma simples e informal conversa entre chefe e subordinado. Através da conversa de ambos, ou seja, por meio da palavra, temos um esforço para que o filme seja concluído-entendido, os personagens, assim como nós, querem entender o filme do qual fazem parte, também querem entender suas funções num mundo cada vez mais caótico.
Talvez seja essa a principal mensagem e ironia dos irmão Coen. Através da conversa que encerra a história, temos um convite ao espectador, para que este, acredite na palavra, antes da imagem.
É através da palavra que entendemos a nós mesmos e o mundo em que vivemos, através dela que nos entendemos enquanto sociedade. Através da imagem, os irmãos Coen fazem um pedido para que não acreditemos neles (em hollywood?)...
...para que leiamos antes de queimar (ou seria, antes que queimem?)...
...quem sabe assim as feridas cicatrizem.